Sabe aquelas pessoas que por algum motivo te inspiram e você não sabe ao certo o motivo?
Bem, um cara cuja trajetória se confunde com a cena musical de São Paulo e com a própria música no âmbito geral pode explicar um pouco tal admiração. Vocalista, Radialista, Apresentador, DJ entre outras coisas, seja qual for a faceta de Kid Vinil ele sempre fazia com maestria.
Dono de um visual único com camisas de dragão ou estampas estilosas e um cavanhaque sempre muito bem produzido, Kid Vinil (ao lado de Fábio Massari e isso é uma outra história) foi o Google da geração dos anos noventa quando o assunto era música. Seja eu seus programas de rádio, seja no saudoso Lado B da MTV, Kid, dono de um carisma único trouxe para conhecimento dos amantes da boa música, um arsenal de bandas alternativas que pipocavam na Europa e nos confins dos EUA. Em uma época em que não se tinha pudor em dizer que sim, bandas inglesas e americanas são legais, assim como as brazucas, o desfile de sons alternativos de qualidade ímpar, eram apresentados sempre que ele surgia na tela.
Tive a oportunidade de encontrá-lo na extinta Brasil 2000 FM onde ele era então o diretor. Na ocasião, eu aspirante a alguma coisa e aluno fervoroso de seu estilo único além de ouvinte da rádio, fui apresentar uma seleção de dez músicas em um programa chamado “Balada Brasil 2000” onde ele mesmo selecionava o ouvinte que então teria a honra de após passado por seu crivo, apresentar sua seleção e se deleitar ouvindo com os amigos quando fosse ao ar.
Muito bem recebido, falamos sobre minha playlist que tinha Smiths, passava por Massive Attack, SugarCubes e Poesie Noire. Feliz por ter acertado em agradar ao mestre, conheci toda a radio apresentada pessoalmente por ele e fui para o estúdio gravar com um produtor chamado Serginho que logo alertou em tom muito amistoso: “olha por mais que você conheça, não comente sobre as bandas na gravação pois o Kid tem receio que errem”, eu como bom aluno e muito logo obedeci e gravei genericamente alguma coisa apenas citando as bandas sem fazer menções mais específicas como agora ou mesmo datas.
Fica a lembrança, o legado e a saudade de vê-lo palestrando sobre músicas e histórias que ele como ninguém, tinha.
por Flavio Richards